No mundo todo existe uma grande discussão sobre o polêmico tópico dos Organismos Geneticamente Modificados (GMO). Fato é, que existe uma grande discrepância entre a opinião pública e as evidências científicas em tratando-se de cultivares geneticamente modificadas. Outrossim é que, de forma generalizada, os debates têm sido cada vez mais pobres de evidências e resultados científicos, e cada vez mais entoados de forma ideológica. Em tratando-se de ambos os lados, quando trata-se de defender um dos dois pontos de vista, ao menos no que tange a opinião pública, os debates têm se baseado em ataques e desconstruções que nada tem a ver com o debate científico baseado em evidências.
Acontece que um grupo de filósofos e cientistas biotecnológicos lançou mão da ciência cognitiva para entender e explicar como e por que a oposição aos organismos geneticamente modificados (GMOs) tornou-se tão difundida, mesmo com todas as pesquisas indicando que os cultivares geneticamente modificados deram grandes contribuições para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável.
“A popularidade e as características típicas da oposição aos GMOs podem ser explicadas em termos de processos cognitivos fundamentais. Mensagens contra a tecnologia dos GMOs apelam fortemente para intuições e emoções particulares,” diz um dos autores, Stefaan Blancke, filósofo do Departamento de Filosofia e Ciências Morais da Universidade de Ghent (Ghent University Department of Philosophy and Moral Sciences).
“Representações negativas dos GMOs, por exemplo, como alegar que os mesmos causam doenças e contaminam o meio-ambiente entram no nosso sentimento de desgosto, e isso adere-se à mente. Essas emoções são muito difíceis de serem contornadas, em particular porque a tecnologia dos GMOs é complexa para se comunicar.”
Alguns exemplos de sentimentos contrários a esta tecnologia estão presentes no mundo todo, desde a suspensão de uma cultivar geneticamente modificada de berinjela na Índia, até os rigorosos regulamentos aos GMOs na Europa. O que pode estar contribuindo para a oposição publica, dizem os pesquisadores, é a falta de entendimento científico da genética (cerca de metade das pessoas que responderam em uma pesquisa não rejeitaram a alegação de que um gene de peixe inserido em uma cultivar de tomate daria ao mesmo o gosto de peixe) também como objeções morais aos cientistas, acusados de estarem “brincando de ser Deus”.
“Argumentos contrários a tecnologia GMO tocam a nossa intuição com o fato de que todos os organismos tem um núcleo imutável não observável, uma essência, e essas coisas no mundo natural existem ou acontecem com um propósito,” explica Blancke, “Esse raciocínio com certeza é conflitante com a teoria da evolução*, a ideia de que na evolução uma espécie pode alterar as outras. Isso também nos torna susceptíveis à ideia de que a natureza é uma força que tem um propósito ou mesmo intenções em que não deveríamos nos intrometer.”
Enquanto crenças religiosas, particularmente as que levam consigo uma visão romântica da natureza, têm sido acusadas de gerarem algumas das negações sobre os GMOs, os autores argumentam que existem mais coisas nessa história. Usando ideias das ciências cognitivas, da psicologia evolucionária e teorias de atração cultural, eles propõem que esse assunto é uma matéria de mensagens concorrentes para a atenção, em que os grupos ambientais são simplesmente muito melhor em matéria de influenciar os desejos de alimentação das pessoas, em relação aos GMOs, do que a comunidade científica o pode fazer.
“Por muito tempo as pessoas ouviam apenas um lado,” afirma Blancke. “Os cientistas não envolvem-se, geralmente, com o entendimento do público sobre os GMOs, sem mencionar o fato de que a tecnologia dos GMOs é muito contra-intuitiva e, portanto, difícil de transmitir para um público leigo, então eles têm estado em desvantagem.”
Os pesquisadores, enfim, acreditam que entendendo o motivo de as pessoas serem contra os GMOs é o primeiro passo para identificar os caminhos para neutralizar as mensagens negativas. Blancke e um dos co-autores, Geert De Jaeger, um cientista da biotecnologia, começou a desenvolver em sua comunidade uma lição pública para acabar com os mitos sobre os GMOs. Eles incitam os outros para construir mais programas de educação científica a fim de ajudar a equilibras as campanhas anti-GMOs.
“Nós queremos trazer os dois lados mais juntos,” completa Blancke. ” Você não pode dizer sempre que os GMOs são ruins. Você tem que olhas em cada caso separadamente para fazer um julgamento.”
*Prefere-se utilizar o termo Fato da Evolução, pois este não consiste exatamente numa teoria, mas num fato.
**Adotou-se, nesta postagem, o termo GMO (organismos geneticamente modificados), ao invés de transgênicos, por este último ter uma grande repulsa por parte da opinião pública.
Referências:
Stefaan Blancke, Frank Van Breusegem, Geert De Jaeger, Johan Braeckman, Marc Van Montagu. Fatal attraction: the intuitive appeal of GMO opposition. Trends in Plant Science, 2015; DOI: 10.1016/j.tplants.2015.03.011
Cell Press. (2015, April 24). Psychology of the appeal of being anti-GMO. ScienceDaily. Acesso em 10 de Junho, 2015 em www.sciencedaily.com/releases/2015/04/150424105348.htm
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