O declínio das abelhas: um vilão improvável

Uma das maiores potencias meliferas do mundo, o Brasil vem enfrentando problemas para manter as colonias de abelhas. Um mercado avaliado em US$ 360 milhões, com número de apicultores aumentando cada vez mais. A resposta para esse problema pode ter vindo de um estudo científico publicado nos Estados Unidos.

Uma equipe de cientistas analizou 24 fatores ambientais para entender os declínios nas populações e na distribuição geográfica de mamangavas e abelhas melíferas. As primeiras hipóteses eram de que mudanças no uso das terras, a geografia ou até mesmo inseticidas usados em lavouras próximas poderiam estar causando esse desequilíbrio.

O resultado da pesquisa? Um tanto quanto chocante. O agente causador, sempre pensado não ter efeito sobre os animais, o uso de fungicidas.

 

Os inseticidas funcionam: eles matam os insetos. Os fungicidas, no entanto, têm sido ignorados nesse aspecto,  uma vez que eles não visam controlar insetos, mas eles podem não ser completamente benignos (para abelhas) como sempre pensamos. Isso nos surpreendeu.

-Scott McArt, professor assistente de entomologia e autor do estudo publicado em 15 de novembro de 2017.

Enquanto a ciência tem se preocupado em estudar os inseticidas, como neonicotinóides, que agem no sistema nervoso central dos coleópteros, este trabalho demonstra como os fungicidas (particularmente o clorotalonil), um fungicida de uso geral frequentemente encontrado nas colmeias, pode afetar negativamente a saúde das abelhas, constatou McArt.

Com base em um banco de dados amplo coletados por Sydney Cameron (professor de entomologia na Universidade de Illinois) os cientistas descobriram o que chamam de conexões de “escala de paisagem” entre o uso de fungicidas, prevalência de patógenos e o declínio das abelhas nos Estados Unidos, que refere-se a área em que a abelha forrageadora vive, cerca de 2 km em diâmetro.

Enquanto os fungicidas controlam patógenos em plantas cultivadas, as abelhas acabam carreando o seu resíduo ao forragear em busca de pólen e néctar. Como os agricultores utilizam tanto inseticidas como fungicidas, os cientistas se preocupam com um processo de sinergia, onde um acaba potencializando o outro.

Enquanto a maior parte dos fungicidas são relativamente não-tóxicos para as abelhas, alguns são conhecidos pela sua interação sinérgica com os inseticidas, aumentando consideravelmente as suas toxicidades para as abelhas

– -Scott McArt, professor assistente de entomologia e autor do estudo publicado em 15 de novembro de 2017.

O clorotalonil tem sido  relacionado a crescimento atrofiado de colônias, bem como ao aumento de vulnerabilidade a Nosema, uma infecção do sistema digestivo fatal às abelhas.

 

Nosema (nosemose) pode ser devastadora para as abelhas. Uma vez que a exposição aos fungicidas pode aumentar a susceptibilidade delas à Nosemose, isso pode ser a razão pela qual estamos vendo ligações entre a exposição à fungicidas, prevalencia de Nosemose e declínio de abelhas por todo o país (EUA) nesse banco de dados.

-Scott McArt, professor assistente de entomologia e autor do estudo publicado em 15 de novembro de 2017.

Tanto para a agricultura do país, quanto a agricultura mundial, as abelhas são peças muito importantes na polinização, uma vez que elas acabam levando pólen para outros lugares do seu sitio de forragem para outras flores. Nos Estados Unidos as abelhas contribuem com mais de US$ 15 bilhões para a economia e US$ 170 bilhões para o agronegócio mundial, de acordo com pesquisas. Enquanto metade da polinização de lavouras é realizada comercialmente por abelhas nos Estados Unidos, a outra metade é feita por mamangavas e abelhas selvagens. Em Nova York, os serviços de polinização contribuem com US$ 500 milhões a economia agrícola.

Os outros autores da pesquisa são Christine Urbanowicz, Dartmouth College; Shaun McCoshum, Westchester Land Trust; Rebecca E. Irwin, North Carolina State University; and Lynn S. Adler, University of Massachusetts, Amherst. Os fundos para a pesquisa foram providos por U.S. Department of Agriculture e a National Science Foundation.

 

Traduzido e adaptado de ScienceDaily.


O artigo completo, em inglês, você encontra clicando no link abaixo.

Scott McArt et al. Landscape Predictors of Pathogen Prevalence and Range Contractions in United States Bumblebees. Proceedings of the Royal Society B, 2017 DOI: 10.1098/rspb.2017.2181

About André Guilherme Daubermann dos Reis

Estudante de Doutorado em Fisiologia e Bioquímica de Plantas (ESALQ - USP). Mestrado o em Fisiologia Vegetal na Universidade Federal de Lavras (UFLA - Lavras-MG). Engenheiro Agrônomo formado na Universidade de Passo Fundo (UPF).

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