Analfabetismo científico, Divulgação científica e Clube SOS Ciência

Um toque de ciência

Talvez, a maior culpada pelo crescimento explosivo das correntes pseudocientíficas seja, justamente, a ciência. Se não a ciência, os seus pares.

Um toque de ciência
“Um toque de ciência”. Mars P. (Flickr CC)

O analfabetismo científico, mais do que qualquer coisa, tem feito com que as mais diferentes culturas acreditem em coisas como: misticismo quântico, vacinas e autismo, alquimias, cura de doenças com água, astrologia, não ocorrência do aquecimento global, terra oca, terra plana, entre outras. Mas, o que é, de fato, alfabetismo científico?

De certa forma, poderíamos resumir o alfabetismo científico como sendo a capacidade de utilizar o conhecimento científico para identificar e realizar conclusões baseadas em evidências, com o intuito de entender e ajudar a tomada de decisões sobre o mundo natural e as mudanças feitas no mesmo através ou com as mais diversas atividades humanas exercidas. Para tal, como cidadãos, precisamos avaliar criticamente o que nos concluem em nome da ciência e, então tomar decisões e escolhas informadas sobre o que estamos querendo entender.  Um estudante, ou mesmo um cidadão, que é alfabetizado cientificamente, está habilitado a aplicar o seu conhecimento dos mais diversos conceitos científicos e processos de avaliação dos problemas e problemáticas que podem surgir. Pessoas que são cientificamente alfabetizadas entendem e conhecem os conceitos científicos, bem como os processos que são necessários para a participação na sociedade. Perguntar, encontrar ou até mesmo determinar respostas para questões que derivam-se da curiosidade sobre o seu mundo, é outro potencial de uma pessoa que foi alfabetizada cientificamente. Descrever, explicar e predizer fenômenos naturais; ler e entender as noticias de uma forma científica, visando engajar o pensamento crítico e conversações sobre a validade das conclusões do mesmo no meio inserido; identificar problemas científicos em decisões diplomáticas; expressar suas posições em que é científica e tecnologicamente informado; avaliar a qualidade da informação científica que lhe é exposta, baseando-se em fontes e métodos que foram utilizados para tais conclusões; avaliar argumentos baseado em evidências e concluir a partir das mesmas, trabalhar de forma cética, visando concluir apenas o que é cabido aos argumentos e premissas utilizadas, entre outros aspectos. O analfabetismo científico tem feito com que agendas perigosas como: homeopatia;  agrohomeopatia; calcário líquido; microgeos; penergetics e afins sejam extremamente difundidos. Por não se entender os princípios básicos da experimentação científica e agrícola.

O trabalho de divulgação científica muito tem ajudado as pessoas que não tem conhecimento científico de base, visando explicar acontecimentos, leis, teorias e diversos outros trabalhos científicos que, em termos técnicos, torna-se algo de muito difícil leitura. Muito provavelmente a falta de pessoas divulgando a ciência e seus acontecimentos, seja um dos fatores cruciais para que a nossa sociedade atual seja tão passiva para com o que lhes é exposto. Pergunto-me se todos os cientistas deveriam trabalhar com a divulgação científica. Por certo, todos eles deveriam preocupar-se com isso e, com seus pares, decidir por um grupo de melhores habilidades apresentação para que, então, trabalhem com a divulgação científica da área. No entanto, não acredito que “obrigá-los” a fazer divulgação científica seja a melhor coisa a ser feita. O Yuri e o Pirula, no canal “Eu, ciência” bateram um papo sobre divulgação científica. Confira no vídeo abaixo.

 

 

Recentemente, um projeto de lei tem causado diversas discussões no meio acadêmico. A PLS 224/2012 tem como objetivo obrigar bolsistas, como os do programa ciência sem fronteiras, a fazer divulgação científica nas escolas públicas. A ideia de levar os bolsistas para fazerem divulgação científica, em sí, é muito boa. No entanto, acredito, seria mais proveitoso se dessemos estrutura e incentivo àqueles acadêmicos bolsistas que realmente querem e tem capacidade de fazer divulgação científica de qualidade. Ainda assim, acredito que, se aprovado, esse projeto de lei tem mais a ajudar do que atrapalhar.

Há pouco mais de um ano, participando do curso “Método Lógico para Redação de Artígos Científicos”, ministrado pelo renomado professor Gilson Volpato, acabei por descobrir o seu portal “Clube SOS Ciência“. Nesse portal, o professor Gilson Volpato ministra palestras, discorre sobre seus conhecimentos e suas opiniões, e está aberto a perguntas (até o momento, 784 perguntas respondidas e 547 delas disponíveis para todos os membros) e debates dentro do mesmo portal. Essa é uma das melhores ferramentas que já conheci para se ambientar com o mundo acadêmico e científico.

A ciência muito tem feito pelo ser humano, mas ainda não aprendeu a conversar com aqueles que não os seus pares. Talvez uma das maiores dificuldades e barreiras que enfrentaremos nos próximos anos é justamente essa, a efetiva Divulgação Científica e o combate ao Analfabetismo Científico.

About André Guilherme Daubermann dos Reis

Estudante de Doutorado em Fisiologia e Bioquímica de Plantas (ESALQ - USP). Mestrado o em Fisiologia Vegetal na Universidade Federal de Lavras (UFLA - Lavras-MG). Engenheiro Agrônomo formado na Universidade de Passo Fundo (UPF).

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