Você já ouviu falar em fotorrespiração?
Esse é um dos processos mais importantes (e muitas vezes ignorados) na fisiologia vegetal — e ele pode explicar por que certas plantas são mais eficientes que outras em ambientes quentes e secos.
Hoje vamos entender o que é fotorrespiração, por que ela acontece e o que a ciência tem feito para contornar seus efeitos negativos.
🌱 O que é fotorrespiração?
A fotorrespiração ocorre quando a enzima rubisco — principal responsável pela fixação de carbono durante a fotossíntese — comete um “erro”:
em vez de fixar dióxido de carbono (CO₂), ela fixa (O₂).
Esse processo é chamado de fotorrespiração porque:
- É dependente da luz (foto)
- Envolve o consumo de oxigênio e liberação de CO₂ (respiração)
Esse “erro” metabólico é comum em plantas C3, principalmente em condições ambientais como:
- Alta temperatura
- Alta luminosidade
- Estômatos fechados (baixa entrada de CO₂)
❌ Por que é um problema?
Quando a rubisco fixa O2 em vez de CO2, ela gera uma molécula chamada 2-fosfoglicolato (2-PG) — que não pode ser usada diretamente no ciclo de Calvin.
O que acontece depois da formação do 2-fosfoglicolato (2-PG)?
- A planta precisa reciclar essa molécula tóxica em um processo que envolve três organelas: cloroplasto, peroxissomo e mitocôndria.
- Esse caminho é custoso: consome ATP, NAD(P)H e ainda libera CO₂.
🔍 Resultado?
→ Menor eficiência fotossintética
→ Perda líquida de carbono
→ Menor produtividade vegetal
Estima-se que a fotorrespiração pode reduzir a produtividade em até 25% em algumas plantas C3!
🔬 Existe alguma função positiva na fotorrespiração?
Apesar de ser um processo ineficiente, a fotorrespiração impede o acúmulo tóxico de 2-PG e ajuda a manter o funcionamento celular em condições de estresse.
Ou seja: não é o ideal, mas é melhor do que nada em situações onde a planta precisa manter o metabolismo ativo mesmo com pouco CO₂ disponível.
Além disso, diversos estudos têm mostrado que a fotorrespiração parece ser importante para a assimilação de nitrogênio pelas plantas.
🌾 Como as plantas C4 e CAM evitam a fotorrespiração?
As plantas evoluíram mecanismos para contornar esse problema:
✅ Plantas C4 (como milho, cana-de-açúcar, sorgo):
- Têm anatomia especial chamada bainha de Kranz, que impede a entrada de CO2 e oxigênio próximo à Rubisco.
- Fixam CO₂ em células do mesofilo, transportam o CO2 na forma de compostos de quatro carbonos para células da bainha, onde o CO₂ é liberado próximo à rubisco → resultando em alta concentração local de CO₂ → logo, a rubisco fará apenas a carboxilação.
✅ Plantas CAM (como abacaxi e cactos):
- Abrem os estômatos à noite para fixar CO₂ e armazená-lo na forma de ácido málico.
- Durante o dia, com estômatos fechados, realizam o ciclo de Calvin com CO₂ já acumulado → evitam perda de água e reduzem fotorrespiração.
🧪 O que a ciência tem feito sobre isso?
Algumas linhas de pesquisa estão tentando:
- Modificar geneticamente a rubisco para torná-la mais seletiva por CO₂.
- Inserir mecanismos C4 em plantas C3, como no projeto do “Arroz C4”.
- Estudar rotas de “bypass” (que “evitem”) da fotorrespiração para aumentar a eficiência energética da reciclagem do 2-PG.
Essas abordagens visam melhorar a produtividade de culturas C3, especialmente em um cenário de mudanças climáticas com mais calor e estresse hídrico.
📚 Conclusão
A fotorrespiração é um custo fisiológico inevitável em muitas plantas, mas compreender seu funcionamento nos ajuda a entender:
- Como a planta responde a estresses ambientais
- Por que certas espécies são mais produtivas que outras
- Como estratégias evolutivas (como as vias C4 e CAM) surgiram para lidar com ambientes adversos