Recentemente um artigo publicado na Nature por Pittelkow, C. et al. gerou grande interesse e controvérsias na comunidade científica, bem como aos agricultores. O artigo, de forma geral, envolve-se com a produtividade e os potenciais dos princípios da agricultura conservacionista e plantio direto.
Um dos principais desafios da agricultura e da sociedade como um todo é a alimentação. A população mundial cresce cada vez mais e cada vez mais torna-se exigente no que diz respeito a alimentação. No entanto, existe uma outra demanda que é realmente muito importante, que é a de aumentar a produção e qualidade dessa produção, visando os mínimos impactos ambientais. Nesse sentido, a agricultura conservacionista é representada em um conjunto de três princípios de manejo que receberam amplo suporte mundial para ajudar no desafio de minimizar os impactos ambientais.

Acontece que ainda hoje a agricultura conservacionista é amplamente debatida, no que diz respeito aos seus efeitos na produtividade agrícola e à sua aplicabilidade em diferentes contextos de cultivo. Um estudo recente foi conduzido em formato de meta-análise em escala mundial utilizando 5.463 observações de produtividade emparelhados de 610 estudos para comparar plantio direto, que tem o conceito central e original da agricultura conservacionista, com o método de cultivo convencional. Esse estudo abordou 48 culturas em 63 países.
Os resultados mostraram que o plantio direto reduz a produtividade, mas ainda existem respostas variáveis, sendo que sob certas condições o plantio direto pode produzir equivalentemente ou até mais do que o método tradicional. Os autores constatam que é importante dizer que quando o plantio direto é combinado com outros dois métodos da agricultura conservacionista de retenção de resíduos vegetais e rotação de cultura, seus impactos negativos são minimizados. Além disso, concluem, o plantio direto combinado com outros dois princípios aumentam significantemente a produtividade de culturas de sequeiro em climas secos, sugerindo que isso pode vir a ser uma importante estratégia, em relação às mudanças climáticas. No entanto, qualquer expansão da agricultura conservacionista deve ser feita com cautela nessas áreas, como a implementação dos outros dois princípios é na maioria das vezes desafiador em sistemas de cultivo pobres em recursos e vulneráveis, assim aumentando a probabilidade de perdas na produtividade. Apesar dos sistemas de cultivo serem multifuncionais, fatores ambientais e socioeconômicos devem ser considerados. A análise dos autores indica que a potencial contribuição do plantio direto para a intensificação da sustentabilidade da agricultura é mais limitada do que normalmente assume-se.